1 - Foi preciso a troika lembrar que existe o dr. Jardim e o seu incontrolável governo para que o ministro das Finanças também se atrevesse a aflorar o assunto. Sem falar de outras façanhas, Jardim tem para apresentar uma região endividada até ao absurdo, falida depois de décadas a ser financiada pelo continente, arruinada economicamente, com mais desemprego e desigualdades sociais que qualquer outra região de Portugal, cativa de um sistema de compadrio empresarial que ele consentiu e fomentou. Em todos estes anos, nunca ninguém - presidentes do PSD, primeiros-ministros, Presidentes da República - ousou metê-lo na ordem. Agora, descobrimos que vamos pagar pelas novas dívidas de Jardim mais 277 milhões - o equivalente a cerca de 13.500 milhões nas contas públicas, se todo o país se endividasse à escala dele. E, enquanto o resto do país sofre apertos, ele assim vai continuar até às eleições regionais de Outubro. É o ponto limite: veremos se Passos Coelho tem coragem para o que se impôe.
2 - Os impostos não param de subir, mas as receitas fiscais caem e a fuga de capitais para o estrangeiro dispara, porque há um limite para o que é suportável. Ufano, o primeiro-ministro gaba-se da coragem de ir ainda aumentar mais impostos e taxas, e tem para apresentar, do lado da contenção da despesa, uma mão cheia de nada. E prepara-se para diminuir o custo fiscal do trabalho, com a contrapartida da subida do IVA, assim procedendo a uma transferência de dinheiro dos trabalhadores para as empresas e apesar dos avisos de que isso aumentará o desemprego em vez de o diminuir. Espero bem que não queiram fazer da nossa economia um laboratório de ensaio de políticas ditadas unicamente por uma agenda ideológica - ainda por cima, aplicada apenas na parte fácil e conveniente.
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Extracto da crónica de Miguel Sousa Tavares no semanário Expresso.