quinta-feira, 30 de junho de 2011

Poema - Heinrich Heine

Encontro muitas semelhanças entre este poema de Heinrich Heine, poeta alemão, nascido em 13 de Dezembro de 1797 e falecido em 17 de Fevereiro de 1856, e o poema do meu post anterior do poeta António Aleixo. Porque António Aleixo era um quase analfabeto não o imagino a ler Heinrich Heine. Um compõe o poema de forma literária. Outro de forma simples mas igualmente com uma mensagem forte. Se António Aleixo tivesse tido a possibilidade de estudar que grandioso poeta ele tinha sido!!!


UM CONTO DE INVERNO


Amigos, quero compor para vós uma canção,
uma canção nova, uma canção melhor!
Queremos instaurar aqui na terra,
agora mesmo, o reino dos céus.

Queremos ser felizes nesta terra,
aqui queremos derrotar a fome
e que o ventre preguiçoso não devore
o que mãos trabalhadoras produziram.

Cresce, aqui em baixo, pão que chega
para os filhos dos homens
e ainda há rosas e mirtos,
beleza, alegria e ervilha-de-cheiro.

Sim, ervilhas-de-cheiro para todos.
Logo ao abrir das vagens!
O céu, não o queremos para nada,
fiquem com ele os anjos e os pardais.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

António Aleixo - Poeta Popular - Parte III

Reprodução do retrato a óleo de António Aleixo. Autor do original: Luís Furtado, pintor louletano.

Não Creio nesse DeusI

Não sei se és parvo se és inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.

II

Não vês que o teu bem-estar faz d'outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p'ra ti o céu e a terra..
— Não te achas egoísta ou exigente?

III

Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P'ra o homem conseguir o que deseja.

IV

Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?...
P'ra esses é o céu; porque o inferno
É p'ra quem vive a vida à custa alheia!

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

segunda-feira, 27 de junho de 2011

António Aleixo - Poeta Popular - Parte II

Nota: Encontrei esta tela no Google. Creio que é uma criação do pintor louletano Luís Furtado. Se estou em erro agradeço que o mesmo me informe. Se é ele o autor fica uma dupla homenagem a 2 duas grandes figuras da minha cidade: O Poeta António Aleixo e o pintor Luís Furtado.

Quadras Populares

de

António Aleixo

Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.



Quando te vês mal, e dizes
que preferias a morte,
           pensa que outros menos felizes
invejam a tua sorte.



Tem a música o poder   
de tornar o homem feliz;
nem há quem saiba dizer
tanto quanto ela nos diz.



Queremos ver sempre à distância
o que não está descoberto,
Sem ligarmos importância
ao que está à vista e perto.



Porque será que nós temos
na frente, aos montes, aos molhos,
tantas coisas que não vemos
nem mesmo perto dos olhos?



Quem nada tem, nada come;
e ao pé de quem tem de comer,
se alguém disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.


Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.


Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.

Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
- Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!


A arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente
.




quinta-feira, 23 de junho de 2011

António Aleixo - Poeta Popular - Parte I - Divulgando-o aos meus amigos (as) brasileiros...

Começo por lembrar as palavras de José Saramago, escritor português, Prémio Nobel da Literatura no discurso de agradecimento na cerimónia da entrega do prémio Nobel, "o homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever". Era o seu avô materno, Jerónimo Melrinho.

Tal como o avô de José Saramago, António Aleixo, que nasceu em Vila Real de Santo António em 18 de Fevereiro de 1899 e morreu em Loulé em 16 de Novembro de 1949, era praticamente analfabeto. Esse facto não o impede de "escrever" poemas com grande sentido filosófico, irónico e de preocupação social.

O seu rico património poético só não se perdeu, na totalidade, graças ao esforço efectuado pelo Professor Joaquim Magalhães que compilou os versos que eram ditados pelo poeta António Aleixo.


QUADRAS DE ANTÓNIO ALEIXO

Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.

Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.
 
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem

Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?

Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.

Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.

Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade
ninguém crê no que ele diz.


Quando os homens se convençam   
que a força nada faz,
serão felizes os que pensam
num mundo de amor e paz.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O Regresso à...Política! Votação para Presidente da Assembleia da República-

Os derrotados...

A teimosia, diria mesmo a incompetência com que Pedro Passos Coelho geriu todo o processo de nomeação do Presidente da Assembleia da República, levou-o a uma derrota, mesmo antes de tomar posse como 1º ministro. Arrastando Fernando Nobre para uma situação humilhante. Deu pena ver o homem tão...só!!!

O Vitorioso


O mais inteligente e astuto dos políticos no activo. Soube gerir bem a situação ao contrário de Pedro Passos Coelho. Sem dúvida que, de forma subtil, ele foi o verdadeiro beneficiado com a história de manter a...coerência!!!

Males que vêem por bem...


A derrota de Fernando Nobre proporcionou a nomeação de Assunção Estevens para Presidente da Assembleia da República. Primeira mulher a ser nomeada para esse cargo. Esperemos que num futuro próximo tenhamos uma mulher Presidente da República.


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Poesia - Carl Sandburg


BANDEIRINHAS
Parei a olhar o mapa da guerra; tinham-no afixado
na frontaria dos escritórios do jornal.

Bandeirinhas - vermelhas e amarelas bandeirinhas,
azuis e pretas bandeirinhas - são deslocadas para trás
e para diante sobre o mapa.

Um rapaz sorridente, cheio de sardas,
sobe a escada, atira uma piada
a alguém que está entre a multidão,
depois espeta uma bandeirinha amarela
uma polegada para oeste
e atrás da amarela espeta uma preta, uma polegada para oeste.

(Dez mil rapazes contorcem-se num lago de sangue
à margem de um rio,
feridos, em convulsões, implorando água,
alguns já no estertor da morte).

Quem perguntará a si mesmo
quanto custou deslocar uma polegada
duas bandeirinhas aqui, no mapa da guerra,
na frontaria do jornal,
onde um jovem sardento nos sorri?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Poesia - José Gomes Ferreira

Mais uma definição de poeta
num carro eléctrico para Almirante Reis.

 
Poeta o que é?
Um homem que leva
o facho da treva
no fundo da mina -
mas apenas vê
o que não ilumina.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Poemas de Mário Quintana...

OS POEMAS
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
(Da obra: Esconderijos do Tempo)

SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

(Da obra: A vaca e o hipogrifo (Poesia Completa)

POEMA DA GARE DE ASTAPOVO
O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

DOS MUNDOS
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

(Obra: Espelho Mágico)

SE EU FOSSE UM PADRE
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus

terça-feira, 7 de junho de 2011

Homenagem a Maria Bethânia.

Maria Bethânia vai ser distinguida hoje pela Câmara de Lisboa com a Medalha de Mérito de Ouro pela contribuição que tem dado na divulgação de grandes autores da literatura portuguesa nomeadamente Fernando Pessoa. A Casa Fernando Pessoa já havia distinguido a cantora brasileira com a Ordem do Desassossego. Amanhã Maria Bethânia irá actuar no Coliseu dos Recreios em Lisboa num espectáculo intitulado "Especial Portugal".