quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Liberdade - Poema de Paul Éluard

Nos meus cadernos escolares
Na minha carteira e nas árvores
Na areia e na neve
Escrevo o teu nome

Em todas as páginas lodas
Em todas as páginas brancas
Pedra sangue papel ou cinza
Escrevo o teu nome

Nas imagens douradas
Nas armas dos guerreiros
Na coroa dos reis
Escrevo o teu nome

Na selva e no deserto
Nos ninhos nas giestas
No eco da minha infância
Escrevo o teu nome

Nas maravilhas nocturnas
No pão branco dos dias
Nas estações desposadas
Escrevo o teu nome

Em todos os meus trapos de azul
No charco sol bolorento
No lago de lua viva
Escrevo o teu nome

Nos campos no horizonte
Nas asas dos pássaros
E nomoinho das sombras
Escrevo o teu nome

Em cada bafo da aurora
No mar nos navios
Na montanha demente
Escrevo o teu nome

Nas formas cintilantes
Nos sinos das cores
Na verdade física
Escrevo o teu nome

Nos atalhos despertos
Nas estradas abertas
Nas praças quee xtravasam
Escrevo o teu nome


No candeeiro que se acende
No candeeiro que se apaga
Nas minhas casas reunidas
Escrevo o teu nome

No fruto cortado em dois
Do espelho e do meu quarto
No meu leito concha vazia
Escrevo o teu nome

No meu cão guloso e meigo
Nas suas orelhas erguidas
Na sua pata desajeitada
Escrevo o teu nome

No trampolim da minha porta
Nos objectos familiares
No jorro do fogo abençoado
Escrevo o teu nome

Em toda a cane concedida
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome

No vidro das surpresas
Nos lábios aplicados
Bem por cima do silêncio
Escrevo o teu nome

Nas ausências sem desejo
Na nua solidão
Nos degraus da morte
Escrevo o teu nome

Na saúde regressada
No risco deaparecido
Na esperança sem memória
Escrevo o teu nome

E pelo poder d’uma palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Para te nomear

Liberdade

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