quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Carta ao Senhor Presidente da República, o nosso Belo Adormecido.

 
Exmo. Senhor Presidente da República,

Lamento estar a acordá-lo por isto. É-me, de facto, penoso tirá-lo desse estado de dormência presidencial em que se encontra. Infelizmente, como pessoa que lhe paga o salário, sinto-me um pouco no direito de achar que o senhor me deve, a mim e aos outros pagadores do seu salário, uma atitude. Desculpe a maçada. À luz do que tenho visto, tomar uma atitude ou pronunciar-se sobre o que quer que seja é-lhe difícil. Apesar de tudo, suponho que ainda se lembre como se faz. É fácil. Eu, cidadã sem filiações políticas e sem qualquer tipo de 'agarramento ao poder' explico como se faz:
1 - Desperte para a vida. A faustosa vida que tem, a nós se deve. Eu sei que acha que vive mal. Que mal consegue pagar as contas. Ainda que seja por causa disso, por achar que está mal, acorde.
2 - Fale. Uma palavra atrás da outra, uma frase após a outra... O senhor já não está habituado, eu sei. O senhor nem sempre foi muito feliz nessa coisa do falar, eu também sei. Mas para ter um ser apático a viver em Belém, nós, o povo, podemos arranjar algo mais em conta.
3 - Tome uma atitude. Não custa nada. Assim como assim, o Senhor Presidente não é do agrado de toda a gente, por isso não esteja para aí a equilibrar pratinhos chineses. O senhor ou acha bem, ou acha mal. Ou não acha. E aí voltamos à história da apatia.
Em suma, é isto. E quando releio esta missiva acho que é tão simples fazer aquilo que é pago para fazer... Não se imiscua! Não diga ao povo que o papel do PR é o de garantir a estabilidade do país. Porque se for para dizer isto, mais vale que permaneça em silêncio. Nesse silêncio putrefacto em que se encontra. Porque se tem a ousadia de afirmar que é esse o seu papel, então, Senhor Presidente, o senhor é uma fraude. Porque não é em estabilidade que este povo vive. O povo, Senhor Presidente, vive assustado com a perspectiva de o Primeiro Ministro poder errar, mais uma vez. O povo, Senhor Presidente, tem medo do dia de amanhã. O dia de amanhã assusta-nos. Porque não sabemos o que mais será necessário fazer para continuarmos a pagar os sucessivos erros de um Governo que anui humildemente a tudo o que os credores impõem, deixando para trás um rasto de destruição. Ao Governo, agarrado a todo o seu orgulho de bom pagador, não importa o crescimento do país. Que se lixem as eleições. Sabe o que significa isso, Senhor Presidente? Significa que o PM se está nas tintas para o futuro. O dele e o nosso. E como posso eu confiar o meu futuro a quem nem sequer quer saber do seu próprio?
Eu sou uma pessoa educada. Só por isso ainda o respeito. Acorde, Senhor Presidente. Mereça o respeito que eu, neste momento, só lhe tenho por ser um idoso. Não faça a história rezar de si como o Presidente que se mostrou incapaz de parar a espiral de desgraça em que nos meteram. E sou uma pessoa pacífica. Não acredito em revoltas gregas. Acredito que as pessoas que nós elegemos em democracia e a quem pagamos o ordenado nos devem respeitar. Da mesma forma que espero que um simples agente policial me defenda, caso assista a um atentado à minha integridade, o mesmo espero de si, Senhor Presidente. Espero que assuma o seu papel. Que ponha mão nisto.
Como não me lembro de alguma vez o ter visto tão indignado e com um discurso tão inflamado como quando achou que o seu computador estava "sob escuta", não me resta alternativa a fazer-lhe uma exigência que tenho o direito de fazer, desta forma, por e-mail. Desejo eu, Senhor Presidente, que todos os portugueses façam a mesma coisa de forma similar: que lhe façam chegar a exigência de uma atitude, do fim da dormência. E que tanta gente o faça, que a sua caixa de e-mail fique viralmente entupida. Com e-mails educados, para que não tenha desculpas. De tal forma que ao Senhor Presidente não reste alternativa, se não pronunciar-se sobre um tema que tanto lhe inflama o ânimo: o seu computador. Talvez com isto consiga acordar para a vida. Para a nossa vida. Que está prestes a transformar-se num inferno. Sartre sabia, quando dizia que o inferno são o outros. Lamentavelmente, os outros são os que nos governam.
Este e-mail seguiu esta noite para o endereço oficial do Presidente da República, belem@presidencia.pt. A passividade, o coma social e político daquele que devia ser o garante da nossa paz indigna-me. Não sou de manifestações violentas. Ainda. Não sou de achar que as pedras atiradas valem mais do que as palavras escritas. Ainda. Apesar de tudo isto, tenho medo de, um dia, olhar para o espelho e não me reconhecer. De ser uma pessoa que acredita que só a violência pode ajudar. Ter o Presidente da República a "dormir" enquanto o país mirra um pouco todos os dias é como ter um pai que espanca um filho: é o contrário do espectável. O nosso garante de segurança não pode ser conivente, pelo silêncio, com quem nos faz mal. Sugiro uma manifestação pacífica e silenciosa, mas que entupa a caixa de e-mail da Presidência da República. Se não houver outro e-mail que não o meu, não faz mal. Eu hoje fiz o que tinha a fazer. Amanhã... amanhã talvez tenha de ir atirar pedras.

Transcrito do BLOG BAD GIRLS
link:
Carta ao Senhor Presidente da República, o nosso Belo Adormecido

2 comentários:

  1. Subscrevo totalmente esse texto. Já o copiei e o enviei para o e-mail indicado.

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  2. Jorge
    Foi fascinante o seu texto. Eu tambem queria enviar como forma de dizer que estou do lado de voces um abraço de sua amiga Monica. Ja estou trabalhando!

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