Tenham medo. Tenham muito medo. Olhando para o que andou a fazer o Governo depois do regresso de férias sobram razões para angústia e medo, muito medo, sobre o que alguns dos ministros podem estar a pensar fazer neste exacto momento.
Quem se lembra de anunciar a 7 de Setembro um aumento das contribuições sociais dos trabalhadores em 7% para menos de um mês depois avançar com o mais violento aumento de impostos desta geração, é capaz de tudo.
Num curto espaço de 26 dias, pessoas como Vítor Gaspar, Passos Coelho, Santos Pereira ou Carlos Moedas transfiguraram-se, desligaram-se do mundo e, do alto dos seus cargos, ou revelaram uma confrangedora inocência política, ou uma pérfida propensão para humilhar o país. Só total ausência de sensibilidade, a absoluta falta de lucidez política ou, pior ainda, a arrogância petulante de que basta ler uns certos livros para se ter razão pode justificar este mês de loucura.
Não nos iludamos com as palavras. As alternativas às mudanças na Taxa Social Única (TSU) prometidas por Passos Coelho na reunião do Conselho de Estado caíram no esquecimento. O reforço do saque fiscal ontem apresentado não tem nada a ver com o caso. Com a TSU, o Governo pretendia superar o veto do Tribunal Constitucional, tentando ao mesmo tempo beneficiar as empresas em nome da competitividade.
Com o aumento de impostos de ontem o que está em causa é apenas a necessidade de tapar um défice glutão que devora os rendimentos, o Estado e a economia. Quer isto dizer que, mesmo que a nova TSU fosse aprovada, o Governo teria de aumentar os impostos para satisfazer as metas do défice inscritas no programa do ajustamento. Por aquelas cabeças passou por isso a ideia de que seria possível retirar aos cidadãos 7% dos seus rendimentos para depois os sobrecarregar com mais IRS, mais IMI e por aí fora.
Foi preciso a maior manifestação desde 1975 em Portugal e uma rejeição generalizada do país para que a famigerada alteração à TSU fosse revogada. Passos diria depois no Parlamento que “o Governo não é cego, nem surdo, nem ficará mudo” e teve de recuar.
Agora, imagine-se que esta pequena réstia de bom-senso num mês inteiro de desvario não tinha existido. Suponha-se que a TSU tinha sido aprovada. Como reagiriam os cidadãos a mais esta carga de impostos? Esperaria por acaso Vítor Gaspar que as milhares de famílias que vivem no limiar da decência o aplaudissem em nome do ajustamento externo? Ou que as classes médias condenadas a empobrecer lhe louvassem o empenho na competitividade e no défice? Ficariam caladas?
O que todas estas perguntas deixam no ar é um problema de credibilidade. Estaremos nós a ser governados por pessoas que têm o sentido das proporções das políticas que aprovam, ou o Governo não passará de uma elite de lunáticos que vive noutro planeta?
A dúvida, terrível, só se dissipará quando alguém nos disser que não, que ninguém no Governo acreditava que este país é assim tão resignado e derrotado para não se insurgir contra as duas austeridades da TSU e a dos impostos. Ou quando ficarmos a saber que, afinal, a TSU não passou de uma manobra de diversão para abrir caminho a mais IRS.
Sem que as dúvidas se desfaçam, estaremos condenados a viver com a suspeita de que ou o irrealismo tomou conta do Governo, ou que o Governo toma os seus cidadãos por súbditos dispostos a acatar em silêncio as suas mais despóticas políticas. Num ou noutro caso, tenham medo. Tenham muito medo.
Num curto espaço de 26 dias, pessoas como Vítor Gaspar, Passos Coelho, Santos Pereira ou Carlos Moedas transfiguraram-se, desligaram-se do mundo e, do alto dos seus cargos, ou revelaram uma confrangedora inocência política, ou uma pérfida propensão para humilhar o país. Só total ausência de sensibilidade, a absoluta falta de lucidez política ou, pior ainda, a arrogância petulante de que basta ler uns certos livros para se ter razão pode justificar este mês de loucura.
Não nos iludamos com as palavras. As alternativas às mudanças na Taxa Social Única (TSU) prometidas por Passos Coelho na reunião do Conselho de Estado caíram no esquecimento. O reforço do saque fiscal ontem apresentado não tem nada a ver com o caso. Com a TSU, o Governo pretendia superar o veto do Tribunal Constitucional, tentando ao mesmo tempo beneficiar as empresas em nome da competitividade.
Com o aumento de impostos de ontem o que está em causa é apenas a necessidade de tapar um défice glutão que devora os rendimentos, o Estado e a economia. Quer isto dizer que, mesmo que a nova TSU fosse aprovada, o Governo teria de aumentar os impostos para satisfazer as metas do défice inscritas no programa do ajustamento. Por aquelas cabeças passou por isso a ideia de que seria possível retirar aos cidadãos 7% dos seus rendimentos para depois os sobrecarregar com mais IRS, mais IMI e por aí fora.
Foi preciso a maior manifestação desde 1975 em Portugal e uma rejeição generalizada do país para que a famigerada alteração à TSU fosse revogada. Passos diria depois no Parlamento que “o Governo não é cego, nem surdo, nem ficará mudo” e teve de recuar.
Agora, imagine-se que esta pequena réstia de bom-senso num mês inteiro de desvario não tinha existido. Suponha-se que a TSU tinha sido aprovada. Como reagiriam os cidadãos a mais esta carga de impostos? Esperaria por acaso Vítor Gaspar que as milhares de famílias que vivem no limiar da decência o aplaudissem em nome do ajustamento externo? Ou que as classes médias condenadas a empobrecer lhe louvassem o empenho na competitividade e no défice? Ficariam caladas?
O que todas estas perguntas deixam no ar é um problema de credibilidade. Estaremos nós a ser governados por pessoas que têm o sentido das proporções das políticas que aprovam, ou o Governo não passará de uma elite de lunáticos que vive noutro planeta?
A dúvida, terrível, só se dissipará quando alguém nos disser que não, que ninguém no Governo acreditava que este país é assim tão resignado e derrotado para não se insurgir contra as duas austeridades da TSU e a dos impostos. Ou quando ficarmos a saber que, afinal, a TSU não passou de uma manobra de diversão para abrir caminho a mais IRS.
Sem que as dúvidas se desfaçam, estaremos condenados a viver com a suspeita de que ou o irrealismo tomou conta do Governo, ou que o Governo toma os seus cidadãos por súbditos dispostos a acatar em silêncio as suas mais despóticas políticas. Num ou noutro caso, tenham medo. Tenham muito medo.
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