Começo por lembrar as palavras de José Saramago, escritor português, Prémio Nobel da Literatura no discurso de agradecimento na cerimónia da entrega do prémio Nobel, "o homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever". Era o seu avô materno, Jerónimo Melrinho.
Tal como o avô de José Saramago, António Aleixo, que nasceu em Vila Real de Santo António em 18 de Fevereiro de 1899 e morreu em Loulé em 16 de Novembro de 1949, era praticamente analfabeto. Esse facto não o impede de "escrever" poemas com grande sentido filosófico, irónico e de preocupação social.
O seu rico património poético só não se perdeu, na totalidade, graças ao esforço efectuado pelo Professor Joaquim Magalhães que compilou os versos que eram ditados pelo poeta António Aleixo.
QUADRAS DE ANTÓNIO ALEIXO
Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Vós que lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos, que pode o povo qu'rer um mundo novo a sério. |
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade
ninguém crê no que ele diz.
Quando os homens se convençam
que a força nada faz,
serão felizes os que pensam
num mundo de amor e paz.
Na realidade António Aleixo é um poeta do Mundo ! Palma
ResponderEliminarUma óptima ideia dar a conhecer ao...mundo!!! a poesia de António Aleixo. Ele é merecedor dessa homenagem. Que os nossos irmãos brasileiros o entendam.
ResponderEliminarÉ sempre bom recordar o poeta António Aleixo. Mais ainda tentar levar a ser conhecido além fronteiras.
ResponderEliminarAs quadras de Aleixo estão sempre actuais infelizmente porque o mundo continua a ser injusto para os mais desfavorecidos. Em Portual neste momento as quadras vão certamente mostrar os podres dos homens do dinheiro e dos politicos que os seguem cegamente como doces donzelas. Belga
ResponderEliminarOLá meu caro amigo!!!
ResponderEliminarDepois de Florbela Espanca, e apesar dos estilos diferentes, esse é um de meus poetas preferidos, em especial pela força implícita nas entrelinhas das suas palavras e dos seus poemas!!!
Um abraço e tenha um óptima semana, Zé Maria