Testamento
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Alda Lara
(Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962)
Lindíssimo esse poema!!!
ResponderEliminarPoema de grande sensibilidade. Nunca tinha ouvido falar dessa poetisa.
ResponderEliminarBrilhante, perfeito poema, Jorge.
ResponderEliminarMuito bacana essa angolana, aliás.
Beijo
Carla
Há poucos anos é que tomei conhecimento da poesia desta mulher de Benguela mas que toda a Angola conhece. Uma boa escolha. Palma
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