Desculpe, Gonçalo
Há uns quinze anos, fiz uma entrevista ao Gonçalo Ribeiro Telles para uma revista que então eu dirigia, a "Grande Reportagem". E, na introdução à entrevista, escrevi: "este homem tem razão há vinte anos e ninguém o ouve". Se hoje tivesse de refazer essa introdução, a única coisa que mudaria era escrever "este homem tem razão há trinta e cinco anos e continuam a não o ouvir".
Costuma dizer-se que o destino de certos homens é terem razão antes de tempo e não serem escutados por isso mesmo. Não é o caso de Gonçalo Ribeiro Telles: ele teve razão não antes, não depois, nem fora de tempo: teve razão no tempo exacto, no tempo em que, saídos de uma ditadura, todas as esperanças e projectos eram possíveis, tudo era novo e limpo e havia um país todo para reiventar. Sá Carneiro teve a percepção disso e chamou-o para o governo, onde Gonçalo Ribeiro Telles inventou a política do Ambiente, que ninguém sabia o que era nem para que servia, criou o Ministério (que, depois dele, nenhum governo entendeu mais para que servia) e foi ainda a tempo, na curta governação, de lançar as leis sobre a Reserva Agrícola e a Reserva Ecológica Nacional - as quais, apesar de tão esquartejadas, excepcionadas, autarquizadas e transaccionadas em projectos PIN e outras batotas que tais, são hoje todo o travão que nos resta ao simples fartar vilanagem, em matéria ambiental e territorial.
Mas, depois disso, o país foi capturado e corrompido pelos dinheiros fáceis da Europa, pelas grandes obras de fachada feitas por patos bravos para bravos patos e por essa trágica urgência de que todos os governos pareceram sempre acometidos e que lhes serviu a todos de desculpa para nunca terem tempo de, simplesmente, pensarem Portugal. Que não havia tempo a perder, disseram-nos, que a paisagem de chaparros e oliveiras não dava de comer a ninguém, que a agricultura não tinha futuro nessa Europa grandiosa onde tínhamos acabado de pôr o pé, que a nossa pesca - ainda feita de tragédias e naufrágios e anzóis e redes cozidas à mão - era rídicula face às fábricas de sashimi ambulante dos japoneses. Não havia tempo a perder. Nunca houve tempo a perder. A nossa tragédia é mesmo essa: nunca tivemos tempo a perder para escutar as poucas pessoas que pensavam como o Gonçalo.
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Com essa invocada superioridade de quem dizia representar a modernidade contra a estagnação as ideias de Gonçalo Ribeiro Telles foram chutadas para o caixote do lixo da história, até descobrirem, tarde e a más horas, que, afinal, eram elas a modernidade.
NOTA: Excerto do artigo de Miguel Sousa Tavares publicado no semanário Expresso de sábado. Aconselho a sua leitura na integra.
Olá caro Jorge, como vai????
ResponderEliminarPeço imensa desculpa pela loooonga ausência, mas tenho sempre o amigo na "alembradura", acredite!
Espero que essa crise por aí seja rapidamente suplantada,,, ando bem preocupado!!!
Aqui lhe deixo a minha mensagem de Natal:
O Natal deveriam ser todos os dias, para sempre, não para apenas um dia. Hoje e sempre é preciso amar, partilhar, dar, receber, do maior, ao menor e mais simples presente, o bem que você faz para os outros será o bem que você faz a si mesmo ... FELIZ NATAL!!!
Forte Abraço, Zé Maria