quarta-feira, 16 de março de 2011

Músicas que me marcaram...(1)

Construção

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague.

6 comentários:

  1. Esta é mais uma das tais grandes canções que não nos cansam nunca escutar mais uma vez. Palma

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  2. O poema, a composição, a interpretação. Tudo excelente.

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  3. Eu também gostava do Chico Buarque e desta musica mais ainda
    Mas os tempos mudaram e as musicas estão completamente diferentes dos nossos gostos
    com carinho
    sua amiga Monica

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  4. O homem pensará mesmo assim ?
    "Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar".

    Anibal Cavaco Silva, Presidente da Repúbica Portuguesa no dia 15 de Março de 2011

    *Sá de Miranda - epígrafe do blogue de José Pacheco Pereira

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  5. Oi Jorge, obrigada por suas visitas e comentários carinhosos nos meus textos. Parabéns pelas suas postagens sempre enriquecendo seu blog, nos trazendo conhecimento e boas leituras, além de músicas e letras prazerosas.

    Um abraço da amiga de sempre Regilene

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  6. Jorge!!!

    Que coincidência!!

    Olha só, de vez em quando tenho uns "saraus" musicais aqui em casa, com minha filha. Ela tem 14 anos, mas quero apresentar a ela algumas canções da Música Popular Brasileira, algumas letras com conteúdo. Porque a qualidade de nossa música, hoje em dia, está péssima. E tivemos uma safra tão boa!
    E ontem foi o dia em que apresentei a ela Construção, do Chico Buarque. Falei sobre a música, dando ênfase nas famosas proparoxítonas, na história que é contada, no contexto.
    Essa música é uma das grandes composições desse cara maravilhoso.

    Beijos

    Carla

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